Posts Marcados justiça

Lambança Suprema

E não foi de Jair Bolsonaro o primeiro ato ditatorial de 2019. A censura – por mais que Alexandre de Moraes negue, não há outro nome para o que ele fez – à reportagem publicada pela revista Crusoé, ligada ao site O Antagonista, foi mais do que uma ação do tipo “não mexe com o meu colega”, mas uma lambança com ar de prepotência e mau-caratismo. A repercussão sobre o tema tratado, até a censura, estava longe do tamanho que ficou após a canetada do ministro. Agora, todo mundo sabe quem é o “amigo do amigo do pai de Marcelo Odebrecht”.

Alexandre de Moraes tentou “ajudar” Dias Toffoli e só aumentou o problema (Rodrigo Pozzebom/Agência Brasil)

Pior do que a prepotência de Alexandre de Moraes, que na mesma semana entrou em um embate com a PGR pelo STF ter agido como se fosse o Ministério Público, foi a entrevista de Dias Toffoli ao jornal Valor Econômico, publicada na última quinta-feira (18). Nas palavras do presidente do Supremo, “se você publica uma matéria chamando alguém de criminoso, acusando alguém de ter participado de um esquema, e isso é uma inverdade, tem que ser tirado do ar. Ponto. Simples assim.”

O presidente da Corte Suprema do Brasil defendeu a censura sem ao menos demonstrar saber que a reportagem não acusava ninguém, apenas repercutia um documento que se tornou público, uma resposta de Marcelo Odebrecht dada em delação da Operação Lava Jato. Não foi a Crusoé que chamou Toffoli de “amigo do amigo do meu pai”, mas um investigado e assumidamente corrupto.

O “amigo de meu pai” seria Lula. Toffoli, o amigo de Lula. Na época, o hoje presidente do STF era advogado-geral da União, escolhido pelo petista, o mesmo que o levou a ser ministro do Supremo. Isso é fato, não é uma inverdade.

Ao censurar a reportagem para tentar “ajudar” o colega da Corte, Alexandre de Moraes deu um verdadeiro tiro no pé, afinal, trouxe à tona uma história que envolve o presidente da Corte Suprema do Brasil, a qual ele também faz parte. Assim como os políticos, os ministros do STF possuem foro privilegiado e podem ser julgados, criminalmente, apenas pelos seus pares. Toffoli não é réu de nada. Até onde se sabe, sequer foi denunciado. De qualquer forma, cabe a ele dar explicações sobre o que é a “inverdade” informada por Marcelo Odebrecht. Não para outros ministros, mas à sociedade, que merece a certeza de lisura na pessoa que preside o STF.

Na mesma entrevista ao Valor, Toffoli afirma que a reportagem foi orquestrada para sair às vésperas do julgamento que vai definir a questão sobre prisão em segunda instância. O plenário do STF iniciaria a apreciação no último dia 10, mas o próprio ministro retirou o tema da pauta seis dias antes.

A questão agora é: que moral terá o Supremo para julgar um tema que abala diretamente os condenados na Operação Lava Jato quando o seu presidente teve não apenas o nome citado em uma delação, mas achou correto que se censurasse essa informação? Dias Toffoli está ou não está envolvido com propinas da Odebrecht? Vale lembrar que o “amigo do meu pai” está preso em Curitiba, condenado em segunda instância.

, , , , , , , , , , ,

Deixe um comentário

A justiça e a grama verde do vizinho

Daniel Alves não vai para a Copa. Assim como Emerson, Edmílson, Romário e tantos outros no passado, o lateral teve que dar adeus ao Mundial por causa de uma lesão. Triste para ele, mais triste ainda para o torcedor, que não consegue confiar em nenhum outro nome para a posição e, diante da incógnita, as mais diversas teorias aparecem: “Precisamos de um outro que seja experiente”. “Tem que convocar o que estiver no melhor momento”. “O futebol jogado no Brasil é muito fraco. Imagine os laterais daqui marcando o Messi?”. Poucos pensam e pedem o que deveria ser crucial: justiça.

Desde criança, todas as vezes que eu dormia na casa de meus avós, um quadro na parede do quarto me chamava a atenção. Nele, Snoopy, o cachorro esperto criado por Charles Schulz, está em cima de um banco olhando o quintal do vizinho sobre o muro. Antes de saber ler, eu já me deparava com aquilo e ficava curioso para entender qual mensagem era passada. Assim que aprendi a juntar as primeiras letras, corri para aquele cômodo e pude finalmente entender o recado: “A grama do vizinho é sempre mais verde, até você descobrir que é artificial”.

“A grama do vizinho é sempre mais verde, até você descobrir que é artificial”

Talvez por esse marco em minha infância, aquela frase virou o ditado popular que mais levei para a minha vida e a lesão de Daniel Alves fez com que, outra vez, Snoopy no banquinho brotasse em meus pensamentos.

Fagner quase sempre foi a primeira escolha de Tite para a reserva. Desde que assumiu a seleção brasileira, o treinador fez dez convocações, com o lateral direito do Corinthians presente em oito delas. Apenas o titular Daniel Alves (oito) foi chamado mais vezes. Outros quatro jogadores da posição também foram lembrados com menos frequência: Danilo (3), Rafinha (2), Mariano (1) e Marcos Rocha (1).

O temor de saber que agora precisamos de um lateral direito titular e não apenas um reserva para Daniel Alves ligou um sinal de alerta. Ser o melhor da posição no Campeonato Brasileiro do ano passado e também no de 2011, quando ainda defendia o Vasco, não basta. Ser o principal líder do vitorioso Corinthians de Fabio Carille é pouco. Ter a confiança de Tite, seu técnico durante duas temporadas inteiras, é apenas um “complô”.

Você pode não gostar do Fagner. Dizer que ele é violento (exagera demais nas entradas, sobretudo em jogos importantes), que ele é protegido por jogar no Corinthians, que não tem experiência de Europa (o que não é verdade, ele já atuou na Holanda e na Alemanha), mas não pode achar injusta a sua convocação.

“Rafinha e Danilo são muito melhores”. Por quê? Ambos são reservas em seus times e o primeiro chegou inclusive a recusar a seleção brasileira com o sonho de defender a Alemanha. Fagner pode ser odiado por muitos torcedores brasileiros, mas é um desafio encontrar um amante do Real Madrid que sinta saudades de Danilo. “Ah…mas eles jogam na Europa, não nesse abismo colossal que é o futebol brasileiro”. Eu prefiro achar que a grama do vizinho é artificial. E ser justo.

Fabinho, do Monaco, é outra opção viável. Vive grande momento, recebeu propostas de gigantes europeus, mas também é verdade que não atua como lateral direito há um tempo. Quando foi convocado por Tite, precisou ser cortado porque se lesionou. Puro azar…ou sorte de Fagner, Danilo e Rafinha, só o tempo irá dizer.

Que Tite tenha suas escolhas muito debatidas, criticadas e elogiadas, mas que seja respeitado. Se a convocação for por confiança, que isso sirva para trazer o hexa. Se for por qualidade, que seja o principal para levantarmos o troféu. E que sejamos justos. Com o treinador, com o convocado e com o futebol brasileiro. Que a grama da seleção esteja bem verde, mas original. Deixemos a artificialidade para nossos vizinhos e a injustiça também.

, , , , ,

1 comentário