A justiça e a grama verde do vizinho

Daniel Alves não vai para a Copa. Assim como Emerson, Edmílson, Romário e tantos outros no passado, o lateral teve que dar adeus ao Mundial por causa de uma lesão. Triste para ele, mais triste ainda para o torcedor, que não consegue confiar em nenhum outro nome para a posição e, diante da incógnita, as mais diversas teorias aparecem: “Precisamos de um outro que seja experiente”. “Tem que convocar o que estiver no melhor momento”. “O futebol jogado no Brasil é muito fraco. Imagine os laterais daqui marcando o Messi?”. Poucos pensam e pedem o que deveria ser crucial: justiça.

Desde criança, todas as vezes que eu dormia na casa de meus avós, um quadro na parede do quarto me chamava a atenção. Nele, Snoopy, o cachorro esperto criado por Charles Schulz, está em cima de um banco olhando o quintal do vizinho sobre o muro. Antes de saber ler, eu já me deparava com aquilo e ficava curioso para entender qual mensagem era passada. Assim que aprendi a juntar as primeiras letras, corri para aquele cômodo e pude finalmente entender o recado: “A grama do vizinho é sempre mais verde, até você descobrir que é artificial”.

“A grama do vizinho é sempre mais verde, até você descobrir que é artificial”

Talvez por esse marco em minha infância, aquela frase virou o ditado popular que mais levei para a minha vida e a lesão de Daniel Alves fez com que, outra vez, Snoopy no banquinho brotasse em meus pensamentos.

Fagner quase sempre foi a primeira escolha de Tite para a reserva. Desde que assumiu a seleção brasileira, o treinador fez dez convocações, com o lateral direito do Corinthians presente em oito delas. Apenas o titular Daniel Alves (oito) foi chamado mais vezes. Outros quatro jogadores da posição também foram lembrados com menos frequência: Danilo (3), Rafinha (2), Mariano (1) e Marcos Rocha (1).

O temor de saber que agora precisamos de um lateral direito titular e não apenas um reserva para Daniel Alves ligou um sinal de alerta. Ser o melhor da posição no Campeonato Brasileiro do ano passado e também no de 2011, quando ainda defendia o Vasco, não basta. Ser o principal líder do vitorioso Corinthians de Fabio Carille é pouco. Ter a confiança de Tite, seu técnico durante duas temporadas inteiras, é apenas um “complô”.

Você pode não gostar do Fagner. Dizer que ele é violento (exagera demais nas entradas, sobretudo em jogos importantes), que ele é protegido por jogar no Corinthians, que não tem experiência de Europa (o que não é verdade, ele já atuou na Holanda e na Alemanha), mas não pode achar injusta a sua convocação.

“Rafinha e Danilo são muito melhores”. Por quê? Ambos são reservas em seus times e o primeiro chegou inclusive a recusar a seleção brasileira com o sonho de defender a Alemanha. Fagner pode ser odiado por muitos torcedores brasileiros, mas é um desafio encontrar um amante do Real Madrid que sinta saudades de Danilo. “Ah…mas eles jogam na Europa, não nesse abismo colossal que é o futebol brasileiro”. Eu prefiro achar que a grama do vizinho é artificial. E ser justo.

Fabinho, do Monaco, é outra opção viável. Vive grande momento, recebeu propostas de gigantes europeus, mas também é verdade que não atua como lateral direito há um tempo. Quando foi convocado por Tite, precisou ser cortado porque se lesionou. Puro azar…ou sorte de Fagner, Danilo e Rafinha, só o tempo irá dizer.

Que Tite tenha suas escolhas muito debatidas, criticadas e elogiadas, mas que seja respeitado. Se a convocação for por confiança, que isso sirva para trazer o hexa. Se for por qualidade, que seja o principal para levantarmos o troféu. E que sejamos justos. Com o treinador, com o convocado e com o futebol brasileiro. Que a grama da seleção esteja bem verde, mas original. Deixemos a artificialidade para nossos vizinhos e a injustiça também.

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  1. #1 por Adriano de Oliveira Barbosa em 12/05/2018 - 20:21

    Concordo com seu texto, aposto que se estivesse no Flamengo (Por exemplo!!!) o lobby para sua convocação na segunda seria enorme ao contrário da sua rejeição atual, outros laterais, principalmente aqueles que jogam na Europa, na grande maioria das vezes não jogam na sua posição de origem (Ex: Danilo, Rafinha) mesmo assim tem qualidade,da mesma forma a qual Fagner também tenha e confiança na hora de uma convocação sempre foi uma tônica seja qual técnico for na amarelinha…Abraços

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