Textos do Veríssimo já traziam as Fake News à tona e nós nem nos demos conta

Esse texto é mesmo do Luis Fernando Veríssimo? Eu copiei e colei mesmo assim. Que belas palavras do Arnaldo Jabor, mas será que foi ele quem disse? Você enviou por email sem checar. Nunca tinha lido essa crítica da Clarice Lispector, parece diferente das que ela já escreveu. Nós indicamos para um amigo na maior tranquilidade.

A fake News não nasceu em 2018. Também não foi em 2016, com a eleição dos Estados Unidos que colocou o empresário Donald Trump no poder. Ela já existia há muito tempo e você não se dava conta disso.

Quando ingressei na faculdade de jornalismo, achei que sairia da sala de aula escrevendo igual ao Luis Fernando Veríssimo. Só que eu não sabia qual deles: se o verdadeiro, criador do Analista de Bagé e da Velhinha de Taubaté, ou o que sempre me enganou com textos dos mais diversos temas (mas a maioria era sobre amor) que lotavam o meu email e me obrigaram a entender qual era a utilidade da caixa de spam.

Você já recebeu muita fake news e compartilhou quando esse termo ainda nem existia no Brasil

Independente da descoberta sobre o que era falso ou não, a faculdade obviamente não me tornou um Veríssimo. Ela me ajudou, entretanto, a desconfiar. A ter dúvida sempre sobre o que é real e o que é fantasia. Descobrir o que é um texto ou uma diáfana agressão. Sim…palavras ofendem, caluniam, atacam e, muitas vezes, sem que ninguém entenda o porquê ou como.

Vivemos tempos sombrios. Chegou o momento em que a notícia passada pelo colega através da rede social tem mais credibilidade a quem lê do que o impresso no jornal. Daí surgiram marqueteiros do Jair, do Fernando, do Neymar, do Luiz, do João, do Marcio, da Mônica, da Janaína, da Marina e até da farmácia da sua esquina, que incrivelmente inventou um medicamento para a cura do câncer e só não distribuiu de graça para a população porque o governo está atrelado a grandes corporações farmacêuticas, não é isso?

É muito fácil, porém, culpar o WhatsApp, o partido político, a rede social, o número de analfabetos, a novela da Globo ou o programa de auditório no domingo pela desinformação e, mais uma vez, passar a mão na cabeça de quem deveria ter evitado tudo isso e ignorou  lá atrás, quando o máximo de interação entre internautas era o bate-papo da UOL.

Você já deve ter ouvido inúmeras vezes neste período eleitoral que tal partido (não é só um) não fez a sua mea culpa e que, por isso, agora paga um preço caro. A maioria dos analistas e jornalistas políticos exige que lideranças de esquerda, de centro e de direita venham ao público e se apresentem como os culpados pelo presente e, portanto, principais personagens para o que virá no futuro.

O que você não deve ter ouvido é esses mesmos analistas e jornalistas pedindo desculpas pelos escândalos na imprensa. Nenhum canal de televisão e jornal impresso fez mea culpa até hoje pelo Caso da escola Base. Nenhum veículo veio a público dizer que o Caso do Bar Bodega colocou na cadeia inocentes por conta de preconceito não só da polícia, mas também da mídia. As capas das revistas semanais continuam demonstrando posição política clara, dizendo que tal candidato é ladrão e que o outro é herói da pátria. Nós sabemos que a edição do último debate eleitoral de 1989 não foi correto. Aí querer exigir que o jornalismo brasileiro seja tratado como a solução para o fim da fake News é demais, né?

Não conheço a jornalista Patrícia Campos Mello pessoalmente. A admiro pelo trabalho seja cobrindo política ou conflitos pelo mundo. Por toda seriedade que demonstrou na carreira, prefiro dizer que ela é mais uma vítima da imprensa ruim do que das fake News. Ela fez o que tinha que ser feito. A concorrência com as matérias que ela mesmo denunciou é complicada e desigual, mas a culpa não é dela. Nós, jornalistas, permitimos isso. Fomos deixados para trás e não movemos uma pedra sequer para evitarmos a catástrofe.

Permitimos os textos com barbaridades, com checagens ruins, com mentiras, com calúnias e não em blogs pessoais (como esse em que escrevo agora), mas em grandes veículos do mercado impresso, radiofônico e televisivo. Infelizmente, a mentira dita várias vezes se torna verdade. Como profetizou Vandré: “Boiadeiro era um rei, mas o mundo foi rodando (…) até que um dia acordei”. E era tarde. O preço está aí. E custou caro.

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